LEITURA OBRIGATÓRIA - DEFESA

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Copiei, colei e compartilho este excelente post de nosso amigo Fabio Balassiano do blog "Bala na cesta" (http://www.balanacesta.blogosfera.uol.com.br/). Recomendo este blogue para todos vocês que comparecem neste nosso espaço e amam o basquete. Este post cala fundo e deveria, na minha humilde opinião, servir como alerta vermelho para os basqueteiros tupiniquins que se olvidam da defesa, num incrivel e antiquado pensamento de que o importante é ser o cestinha do jogo.

Ipsis Literis

Terminou ontem a fase final da Ligas das Américas. E terminou com um campeão surpreendente. O Pioneros, do México, bateu o Obras Sanitárias por 87-79 e torcia para o Formosa, dono da casa, vencer Brasília no jogo de fundo. Os brasilienses, que tinham chance caso ganhassem dos argentinos, vacilaram, perderam por 100-85 e viram o título parar na mão do clube mexicano (troféu inédito, diga-se). Formosa em segundo (primeira competição do clube fundado em 2004), Obras em terceiro e Brasília em quarto foi a classificação final.


Independente do resultado, e Brasília merece os parabéns por ter participado, e lutado, até o final, o importante foi verificar, uma vez mais, o abismo tático que há no basquete brasileiro. O campeão, Pioneros, conta com um técnico espanhol (Jose Pep Claro foi assistente do DKV Joventut, de Badalona) e jogou muito bem dentro de um sistema que combinava defesa agressiva, contra-ataque (quando possível, claro) e jogadas com os pivôs (nem sempre em finalizações, mas sim com bolas passando pelos homens de garrafão). O Obras foi uma decepção, jogou com uma preguiça danada, mas tinha um conceito de jogo lá (transição cadenciada e marcação no homem da bola bem formada). O Formosa, grande surpresa, mostrou um trabalho brilhante de Gabriel Piccato. Com um elenco limitadíssimo (bem limitado mesmo!), venceu um dos melhores times de seu país (o Obras) e deu uma aula de basquete em Brasília. Teve jogo de garrafão com Gregory Lewis, tiros de três pontos livres (Ariel Pau fez o diabo de fora) e excelente marcação no perímetro, coibindo, assim, a principal arma dos brasileiros.

E o que a gente viu em Brasília? Nada, absolutamente nada em termos táticos, coletivos. Nezinho e Arthur guiaram o time contra o Pioneros (a partida foi vencida com 46 dos 74 pontos da dupla), mas diante do Obras e do Formosa o que se viu foi uma passividade inadmissível. Não é plausível que, com um elenco infinitamente superior, o bicampeão brasileiro perca duas vezes (e de lavada!) para um clube argentino que nem se classificou aos playoffs da liga local – como é o caso do Formosa (93-71 e 100-85). Isso, claro, sem falar no quase crônico problema brasileiro em vencer times argentinos (se não me engano, desde o Flamengo em 2009 ninguém bate um hermano numa decisão continental).

Tampouco é admissível que, vendo o adversário anotar uma bola de três atrás da outra, que o técnico mande seu time marcar por zona (e as defesas por zona no Brasil, todos sabemos, são uma “defesa de descanso”, e não uma defesa de combate como deve ser qualquer tipo de marcação – inclusive a por zona). O que se viu, então? No jogo 1, 8/18 do perímetro para o Formosa. No jogo 2, 9/15. Bastante coisa, não (51,5% de acerto)? Também não é aceitável que um time brasileiro pense que é possível jogar basquete sem passar a bola para os pivôs. O que Brasília faz com Lucas, Marcio, Alírio e Ronald chega a ser triste, triste mesmo. Os gigantes ficam lá parados, como cones, fazem bloqueios para arremessos longos de Arthur/Alex/Nezinho/Giovannoni e em nenhum momento são envolvidos na partida. Jogo de periferia? Isso não dá resultado em nível internacional há quase 25 anos, gente.

O basquete mudou, mudou bastante, e me espanta que times (e técnicos principalmente) brasileiros não percebam que não se vence mais pelo ataque – a chave, a responsável pela vitória, está do outro lado, e só não enxerga quem não acompanha a modalidade com profundidade. As defesas por aqui estão em um nível terrível em termos de combatividade (as arbitragens atrapalham muito também, não permitindo um jogo de mais contato físico!) e em termos de conceito (há técnicos que insistem em dizer que “marcar é ter vontade” quando sabe-se que é, obviamente, parte do treinamento adequado), e a gente constata isso a cada competição internacional entre os clubes (três dos cinco títulos da Liga das Américas e 11 dos 15 da Liga Sul-Americana ficaram com os hermanos).

O maior exemplo dessa falta de força na marcação é justamente nos picks dos argentinos. Brasília, como quase nenhum time daqui, conseguiu marcar os corta-luzes dos hermanos, as rotações chegaram atrasadas, e Marín e Lewis se refestelaram de tanto anotar ponto fácil embaixo da cesta. No ataque, há uma falta de capacidade de se enfrentar defesas por zona que chega a ser chocante (voltarei ao tema amanhã) e o final acaba sendo quase sempre o mesmo (arremesso desequilibrado, forçado, dos três pontos).

Brasília tem um dos melhores elencos da América Latina, um núcleo que ganha quase todos os campeonatos internos há quase uma década (Alex, Nezinho, Arthur e Giovannoni estão em quase todas as conquistas de clubes no Brasil desde o Ribeirão Preto) e perdeu simplesmente porque não conseguiu extrair as capacidades completas de seus atletas. Soa familiar, não? Perder quando se tem um time inferior é justo, aceitável e natural. Revés quando se tem um grupo de atletas melhor é reflexo da falta de treinamento adequado, de formação ruim nos fundamentos e falta de estudo/acompanhamento das comissões técnicas (não usar 100% da capacidade de um grupo ÓTIMO de atletas é triste demais).

O Final Four que Brasília fez é o retrato do basquete brasileiro há quase duas décadas. Precisou um técnico de fora vir pra cá mudar a cara da nossa seleção. Vai ser necessário importar 30, 50 técnicos gringos para mudar a cara dos nossos clubes?



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